sexta-feira, 19 de agosto de 2011

VIDAS POR DIAMANTES

Junto às jazidas de diamantes de Marange, no Zimbabwe, militares e polícias estão a torturar os civis para os obrigar a trabalhar nas minas. A União Europeia, que se tem mostrado favorável à retoma do comércio de diamantes em duas minas naquela região, quer agora “provas sólidas” sobre estas violações de direitos humanos.

Da região onde existe uma das principais explorações de diamantes do Zimbabwe chegam relatos de tortura. Um homem contou que levava 40 chicotadas de manhã, outras tantas à tarde e depois à noite. Agora mal pode usar os braços ou andar. As mulheres também são detidas no campo de tortura, mas são por vezes libertadas mais cedo, depois de serem violadas. A denúncia foi feita no programa Panorama BBC, depois de a estação britânica ter ouvido relatos de quem passou por aquele campo de tortura.

As autoridades do Zimbabwe, polícia e militares, querem obrigar os civis a trabalhar na exploração de diamantes e recorrem à tortura para o conseguir, confirmam várias testemunhas que foram ouvidas pela BBC, sob anonimato. Quem recusa, ou quem reivindica qualquer compensação, é submetido à tortura.

A investigação da BBC concluiu existirem pelo menos dois campos de tortura, um a poucos metros da mina principal de Mbada e outro na mesma região, em Muchena. Todos os ex-prisioneiros que aceitaram contar o que aconteceu, ainda que sem dizer o seu nome, dizem ter sido torturados. A uns bateram com paus nos órgãos genitais, a outros lançaram-lhes cães. A tortura foi confirmada por membros das forças de segurança, que também falaram ao Panorama BBC sob anonimato. Os campos de tortura existirão há pelo menos três anos.

Foi nessa altura, em 2008, que as minas de Marange foram invadidas pelo Exército do Zimbabwe, que expulsou os milhares de prospectores à procura de diamantes naquela região. Cerca de 200 pessoas foram mortas e o comércio de diamantes foi então proibido pelo processo Kimberley, o regulador mundial que tem como objectivo evitar a chega ao mercado de “diamantes de sangue”, os que resultam da guerra, da exploração das populações ou dos atropelos aos direitos humanos. O regime ditatorial do Presidente Robert Mugabe – que ocupa este cargo há 23 anos, depois de ter sido primeiro-ministro entre 1980 e 1987 – não comentou os relatos transmitidos pela BBC